quarta-feira, 14 de setembro de 2011
A morte do meu pai
Em fevereiro deste ano meu pai faleceu. Ele estava hemiplégico e vivia acamado por causa de um AVC sofrido em 2007.
Eu estava grávida de 2 meses quando ele foi internado em estado grave. Eu só pude vê-lo uma vez no hospital, pois não era recomendada a minha visita numa UTI cheia de pacientes com complicações respiratórias.
Nessa última visita lembro-me bem do jeito que meu pai me olhava. Ele já não conseguia falar, mas fixou bem os olhos em mim e ficou assim por um bom tempo. Penso que ele sabia que irira morrer em breve. Era um olhar de despedida e eu fui a única filha que estava presente nos últimos dias dele.
A morte é uma coisa sempre triste. Mas, para ele foi uma libertação. Libertação de um corpo que não mais respondia e de uma mente que passava a maior parte do tempo confusa.
Causava-me um grande desconforto vê-lo daquele jeito. Meu pai que sempre fora tão comunicativo e alegre, passou os últimos anos isolado, sem querer ver ninguém. Usava fraldas o tempo todo e nos últimos meses sofria com escaras por causa do seu organismo muito fragilizado. Chegamos a comprar um colchão pneumático que alternava pressão em células, para tentar diminuir o problema, mas as feridas teimavam em desaparecer, apesar do tratamento intensivo.
É difícil aceitar toda a limitação que a doença traz não só ao paciente, mas para toda a família cuidadora. As raras viagens de férias tinham que ser cuidadosamente planejadas a fim de deixá-lo bem assistido na nossa ausência, que sempre era por pouco tempo. Nos passeios de feriado sempre ficava um em casa para cuidar do meu pai, nunca podíamos sair todos juntos. Era muito difícil achar uma cuidadora confiável a ponto de deixarmos ele sozinho com uma pessoa que não era da família.
Ele sentia-se culpado por demandar tantos cuidados, principalmente da minha mãe, que suportou a maior parte do peso.
Nos últimos meses de sua vida tínhamos a impressão de que ele já estava cansado de viver daquela forma. Tive a chance de conversar bastante com minha filha de 5 anos sobre a morte, ainda mais que a nossa cadelinha havia morrido no ano anterior e ela perguntava o que havia acontecido e para onde ia quem morria. Eu dizia que quando o vovô partisse para o céu ele enfim voltaria a andar e falar normalmente, pois no céu ninguém fica doente. Essas conversas prepararam não só a minha filha, mas também a mim.
No primeiro mês depois do falecimento, minha menina dizia sentir falta do vovô, mas dizia isso sem sofrimento, apenas saudade.
É o que sentimos. Não sentimos revolta, nem frustração, nem tristeza profunda, nem culpa, apenas saudade e esperança de um dia nos reencontrarmos no céu.
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