sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Uma homenagem ao meu pai

Meu pai nasceu no ano de 1940. Veio ao mundo fraquinho e quase não vingou. Uma vizinha piedosa foi todos os dias tratá-lo com leite de cabra, e, por causa desta senhora, que ele sobreviveu.
Ele estudou pouco e não teve bom exemplo paterno. Não vou entrar nesse detalhe, por causa da memória do meu avô.
Meu pai conheceu minha mãe já evangélica e aceitou a fé anos mais tarde.
Ele sempre foi trabalhador. Era hábil mecânico e sonhava em ter uma rocinha para cuidar.
Outro sonho era ver os filhos formados na faculdade. Dos três duas se formaram engenheiras.
É claro que ele tem defeitos e às vezes pecava por falar demais, mas era um pai presente, preocupado com os filhos e sabia pedir perdão quando errava.
Tivemos que passar por algumas privações financeiras, mas nunca nos faltou nada do essencial. Daí, fazendo justiça, a minha mãe foi a grande administradora do lar. Sempre a via fazendo contas em papel de pão, para ver se o dinheiro chegava ao fim do mês. E chegava porque ela era muito sensata e equilibrada. Mas deixo a homenagem dela em outra postagem, só para ela.
Lembro-me do meu pai levando a gente para passear nas balsas da represa, levava a gente para pescar no rio e para passar férias na casa da minha tia, hoje já falecida.
Eu ia muitas vezes com ele para a chácara do meu tio Jiro. Foi daí que surgiu a vontade de fazer agronomia.
Meu pai era bem humorado e engraçado. Uma vez ele saiu com uma peruca chanel e uns óculos escuros na rua só para fazer graça na vizinhança. Foi uma risadaria só.
Ele sempre nos apoiou nos estudos. Ele comprava até livros, que nunca chegou a ler, só para nos incentivar a ler e aprender.
Sempre sonhador e animado, vivia chamando o Alex (meu esposo) para grandes empreendimentos rurais. Só que o meu esposo é da área do direito e nunca entendeu nada de agricultura. Para não desconsiderar o animado convite o Alex sempre respondia empolgadamente: "Bora, Seu Paulo, vamos lá!"
Nunca empreenderam nada, mas sonharam muito. E sonhar é preciso para se ter um pouco de leveza nessa vida tão dura.
Enquanto escrevo essas coisas, meu pai está deitado em uma cama, vítima de um AVC que imobilizou o lado direito do seu corpo. Isso foi há mais de dois anos atrás.
Logo após ele ter sofrido o episódio do derrame, ele não falava, não se alimentava, e, por isso, foi colocada uma sonda naso-enteral, e também não reconhecia as pessoas.
Foi um processo longo e dolorido para a família.
Ele sofria de confusão mental, ansiedade e às vezes chegava a ser agressivo.
O tratamento era muito oneroso e ele não tem plano de saúde.
Minha mãe teve que dispor de uma poupança, resultado da venda da casa em São Paulo, senão ele teria falecido.
Um mês após o AVC, meus pais, a convite do Alex, se mudaram para Campo Grande- MS, onde eu, Alex e Elisa residíamos(esta última nossa filha, então com menos de dois anos de idade).
Lá ele teve fisioterapia diária com a Janice, boa profissional, pessoa dinâmica, esforçada, batalhadora e amorosa. Ela gostava muito do meu pai e lutou com todas as forças para fazê-lo andar, mas as sequelas foram maiores do que podíamos superar. Nossa eterna gratidão à Janice, por sua dedicação, empenho e amizade.
Também tivemos grande ajuda da fonoaudióloga Vanessa Giglio. Sem ela meu pai não se livraria da sonda e não tornaria a falar. Ela é a melhor profissional de sua área na cidade. Além disso, é uma pessoa simples, simpática e muito paciente. Nossa gratidão a ela também.
Quero lembrar de mais duas pessoas em Campo Grande: Pastor Miguelzinho e o irmão Sanábria. Eles traziam a ceia para os meus pais todos os meses. Eram muito zelosos e carinhosos com meu pai. Meu pai gostava demais quando eles apareciam. Ele sorria quando via o Pr. Miguelzinho. Que Deus lhes dê recompensa triplicada. O reconhecimento virá do céu, irmãos queridos. Nossa eterna gratidão também.
Meus irmãos também estiveram juntos na hora da doença. Meu irmão veio lá do Japão, com a sua família, só para vê-lo quando soube da gravidade da doença. Minha irmã veio de Manaus-AM trazendo seu bebê de seis meses e cuidou de tudo, inclusive da mudança complicada de Minas Gerais para Mato Grosso do Sul, onde eu corria para achar uma casa grande para abrigá-los.
Até minha cunhada empacotou as coisas para a mudança e mesmo com o orçamento apertado, dispuseram a ajudar nos primeiros meses. E o Ayumi, esposo da minha irmã, a apoiava em tudo, foi ele que arrumou os fiadores para a casa que alugamos em Campo Grande. Ele resolvia as burocracias e tudo o que se podia fazer on-line era ele que fazia.
Sou grata a Deus pela família que ele me concedeu.

Hoje, especialmente, agradeço pela vida do meu pai.
Ele ainda sofre com confusão mental intercalando com instantes de lucidez.
Ele prefere ficar deitado na cama e não gosta de sair de lá. Está muito magro e não gosta muito de visitas.

Confesso que demorou muito para eu aceitar a doença com todas as suas limitações tanto para ele e quanto para nossa família.

Foram meses de luta por fora e por dentro.

Creio que eu começo a vencer a luta interior. A exterior é "um leão por dia". Mas Deus está nos dando graça para continuar.

2 comentários:

  1. Miriam,

    Posso endossar o que você disse porque conheço seu pai desde setembro de 1997. É um homem de caráter: honesto, trabalhador, sincero, íntegro, amoroso, e que deu uma ótima educação a vocês, seus filhos, embora tenha sofrido muito na juventude. Ele soube extrair de si mesmo o que tinha de melhor para educar você e seus irmãos. "Aprendeu com as coisas que sofreu", não é assim? Foi encontrado por Cristo, que o salvou do pecado. Hoje é um servo de Deus, limitado a um leito, mas crente, salvo, alcançado pelo amor de Jesus. Um homem transformado, que dia após dia vem aprendendo a lidar consigo mesmo, pois essa é a nossa maior e mais importante batalha. Eu, como genro, também me considero um filho dele, e com orgulho. Lembro de quando ele me acolheu em sua casa, acreditando que eu poderia passar num concurso e ser aquilo que eu sonhava. Ele chegava ao quarto, que ele mandou construir para eu utilizar, e dizia, ao me ver estudar: "O senhor está preparando o alicerce". Seu pai investiu em mim e em nós. Ele acreditou que eu tinha boas intenções, investiu em mim, e chegou ao ponto de - veja só - me emprestar o carro, sabendo que eu tinha acabado de tirar carteira! Parabéns pelo pai que você tem!

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  2. Olá Miriam! Entendo sua luta diária, pois tenho uma tia que cuidamos passou pela mesma situação; hoje ela, dentro de suas limitações, está bem; mas o que eu kero dizer é que quando temos Deus ao nosso lado e Jesus como centro de nossa vida, nada é impossível. Grande abraço!

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